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Mulher negra: possibilidades e afetos

  • Claudina Damasceno Ozório e Shenia Karlsson
  • 20 de dez. de 2017
  • 4 min de leitura

Todos os dias, nós enfrentamos situações que colocam à prova a nossa capacidade de executar algo. No ambiente de trabalho isso fica ainda mais evidente, especialmente quando almejamos ascensão a cargos mais altos. As barreiras encontradas podem estar ligadas à competição a qual estamos submetidos, à busca por valorização do trabalho com maiores salários, o que consequentemente aumentará a nossa qualidade de vida. O enfrentamento dessas barreiras no ambiente de trabalho pode tornar-se ainda mais exacerbado quando o fator gênero e raça se entrelaçam. Ser mulher e negra pode intensificar a competição, afetando negativamente a nossa saúde mental e autoestima. Porém, alguns fatores podem ser protetivos para o desenvolvimento de habilidades sociais e intelectuais que propiciam a promoção de saúde emocional.


Temos exemplos de mulheres negras que conseguiram ultrapassar a linha que as limitavam, como as três funcionárias da NASA, que se destacaram pelas suas habilidades com matemática e computação, nos anos 60. O filme “Hidden figures” – traduzido como “estrelas além do tempo” - conta a história real de três mulheres negras, um time pioneiro formado por Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e May Jackson (Janelle Monae), brilhantes negras que estiveram por trás de uma das maiores operações da história: o lançamento do astronauta John Glenn em órbita, uma realização que restaurou a confiança na nação, incentivou a corrida espacial e estimulou o mundo.

A história dessas mulheres acontece em um contexto extremante danoso para os negros e negras da época, nos EUA. Em um país em que preconceito, segregação e desrespeito eram declarados à comunidade negra, inserida à margem da sociedade, desprovida de direitos. Nesse contexto de desigualdades e injustiças, elas se destacam pelo trabalho realizado com conhecimento, sabedoria e inteligência, porém não recebiam o devido reconhecimento, sendo figuras ocultas até pouco tempo.

A amizade entre as três cientistas, o acolhimento e suporte familiar pareciam trazer um mínimo de amparo emocional e minimizar o sofrimento psíquico causado pelo ambiente (de trabalho e social) hostil. A história dessas mulheres trouxe-me uma reflexão sobre os lugares que podemos considerar protetivos, cuidadores e nutridores para o nosso desenvolvimento emocional. Todos os dias, nós encontramos pessoas que fazem emergir o nosso pior lado, em contrapartida encontramos outras pessoas que nos fazem bem e cuidam de nós. A forma como respondemos a cada uma dessas pessoas pode melhorar ou piorar a nossa saúde mental. Solomon (2015) argumenta que “nossas emoções são estratégias por meio das quais nos tornamos felizes ou infelizes e que dão significado a nossas vidas. Ao cultivar nossas emoções, determinamos as virtudes e os vícios que nos fazem pessoas melhores ou piores” (p. 26). Desse modo, ter que nos defender o tempo todo pode nos levar ao esgotamento mental, ocasionando sofrimento psíquico e construindo crenças negativas sobre nós mesmos, afetando nossa autoestima.

Podemos pensar a rede de cuidado que cada uma delas possuía e a forma como se tratavam como um contraponto da história dessas mulheres, o que parece ter possibilitado a realização do trabalho na NASA, ambiente tão hostil e desrespeitoso. Se de um lado as situações no ambiente de trabalho faziam emergir as piores emoções, de outro havia a possibilidade de emergir sentimentos mais positivos e protetivos. Quantas vezes caímos nas armadilhas das situações e somos fiéis às nossas emoções negativas, permitindo trazê-las para o nosso ambiente familiar e rede social de amigos, de forma que afastamos de nós pessoas que poderiam nos ajudar a ressignificar ou minimizar as situações e os sentimentos. Pensando de uma forma bem simplória, construímos o tempo todo esquemas de auto sabotagem, sem nos darmos conta do quanto estamos sendo fiéis às nossas crenças negativas, ligadas a sentimentos de menos valia. Precisamos construir espaços de escuta, de validação do outro e de respeito em nosso ambiente familiar e entre amigos. Precisamos permitir emergir o nosso melhor e deixar para o outro o que de ruim ele nos oferece, evitando assim levar as projeções do outro para o nosso ambiente íntimo, que deve ser lugar de cuidado e proteção.


A história dessas mulheres negras cientistas tem muito a nos ensinar. Elas precisaram se apoiar e vivenciaram momentos difíceis, mas permaneceram unidas, se apoiando. Podemos fazer um paralelo com a filosofia UBUNTU (eu sou porque nós somos), elas conseguiram unidas mudar os rumos da história dos EUA, ainda que na época não tenham recebido o merecido reconhecimento social.

Claudina Damasceno Ozório é Psicóloga Clínica. Atende em consultório particular. É uma das idealizadoras do Projeto PapoPreta. Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Pós-graduanda em gênero, sexualidade e direitos humanos da FIOCRUZ. Cursando Psicologia e Relações Raciais no Instituto AMMA Psique e Negritude de São Paulo. Membro do grupo de pesquisa “Corporalidade” (sendo uma das temáticas o estudo da representatividade social e cabelo étnico) no Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio. Participou do grupo de pesquisa em “Família e Casal na contemporaneidade” no Departamento de Psicologia da PUC-Rio. Psicóloga no projeto social Psicologia & Vida – Tijuca. Psicóloga na ONG Rede Postinho de Saúde Preventiva da Mulher na comunidade do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho. Membro do grupo "Psicólogos do Bem" da ABRAFH (Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas). Foi acadêmico-bolsista em Saúde Mental da Prefeitura Municipal do Rio de janeiro no CAPS Rubens Correa de Irajá/ RJ. Trabalhou como Terapeuta de Família, Casal e grupos no Setor de Dependência Química e Comportamental na Santa Casa de Misericórdia/ RJ - cdozorio@gmail.com / claudina.ozorio@fiocruz.br

Shenia Karlsson é Psicóloga Clínica, Pós Graduada pela Puc-Rio, Terapeuta Sistêmica de Família, Terapeuta de casal, Terapia de casais homoafetivos, Psicóloga Social e de grupos, Psicóloga na ONG Rede Postinho de Saúde Preventiva da Mulher. Trabalhou como Psicóloga na Casa Francisco de Assis, atendendo famílias da creche social Santa Clara. Membro participante do Laboratório de Experiências Feministas Negras: Das vidas às Teorias na Ong Casa das Pretas. Psicóloga e Pesquisadora na Prefeitura do Rio de Janeiro - Colônia Juliano Moreira no programa de Moradias Terapêuticas. criskarlsson@gmail.com

Referências:

Solomon, R. C. (2015). Fiéis às nossas emoções: o que elas realmente nos dizem. Rio de Janeiro: Civilização brasileira. Tradução: Miriam Raja Gabaglia de Pontes Medeiros.

Filme: Estrelas além do tempo.

 
 
 

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