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Dia da Consciência Negra? Por que não um Dia da Consciência Humana?

  • Claudina Damasceno Ozório e Shenia Karlsson
  • 20 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

Enegrece Brasil

É comum ouvirmos com frequência esse questionamento, não é verdade? Pois bem, o Papo Preta então resolveu tentar esclarecer o que compreendemos estar por trás desse “famoso” questionamento. Vamos lá! Em nossa história percebemos uma tendência em valorizar heróis brancos e invisibilizar figuras negras que cumpriram funções importantes no desenvolvimento do Brasil. A data comemorativa não surgiu por acaso, ao contrário, foi muito bem elaborada e demandou muito tempo até ser implementada por lei como feriado nacional.


Um grupo de quilombolas na região do Rio Grande do Sul, por uma questão de resistência, implementou na década de 70, o 20 de Novembro como o Dia da Consciência Negra a fim de reconhecer Zumbi dos Palmares, o verdadeiro herói da luta contra a escravidão no Brasil. Até então, no Brasil era o 13 de Maio que comemorava o fim da escravidão, e a Princesa Isabel era até então a heroína “branca” eleita. Contudo registros históricos revelam que a lei foi assinada por questões políticas e não por uma "consciência humana", a tal que todos tanto cobram, mesmo porque o negro nem sempre foi (e é) considerado humano, sendo o corpo que mais sofre as diversas formas de violência. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão no MUNDO, é bom que tenhamos sempre isso em mente, tanto que após a suposta “boa ação” da princesa, a maioria dos negros foram substituídos por trabalhadores europeus e os escravos foram abandonados após serem sistematicamente explorados por quase 4 séculos.


Voltando ao movimento iniciado por esse grupo de quilombolas no Sul do Brasil, esse ganhou expressão em 1978 e surgiu então o famoso MNU-Movimento Negro Unificado, movimento tão importante na luta antirracista no Brasil. A partir de então, nós negros, passamos a considerar o 20 de Novembro o dia que nos representava melhor, um dia que podíamos homenagear Zumbi, o verdadeiro símbolo de resistência, embora muitos outros negros com feitos importantes tivessem sido apagados historicamente. Entretanto, somente em 2011, a Lei Federal 12.519 sanciona o dia 20 de Novembro como feriado nacional, ou seja, foi uma luta que demandou décadas, pois em nosso país parece haver uma grande dificuldade em aceitar quando se trata de comemorar e valorizar a história de luta e resistência da população negra, que é maioria inclusive.


Mas, por que ter um dia da consciência negra? Primeiramente porque no Brasil, não houve uma reparação oficial que reconhecesse a escravidão como o maior crime que o Brasil cometeu contra a humanidade. Na Alemanha, por exemplo, houve várias formas de reparação com os judeus, principalmente o reconhecimento de que o Nazismo foi o pior capítulo de sua história e as consequências devastadoras que o povo judeu sofreu. São ações constantes e marcantes que fazem a sociedade estar a todo momento atenta e consciente, essas ações possibilitam a tentativa de cura social e consequentemente relações sociais mais saudáveis, com isso todos ganham. Já no Brasil, o colonialismo, que produziu a escravidão, ganhou novas roupagens e infelizmente estrutura ainda as relações sociais, e pior, enquanto sociedade não há um constrangimento sistemático e uma consciência geral de que a escravidão foi o pior mal que produzimos. Ainda há a naturalização de práticas racistas como estrutural e estruturante da sociedade.


E porque não o dia da consciência humana? Pelo simples fato que se tivéssemos consciência humana não produziríamos genocídios em massa de um certo grupo étnico, continuamos produzindo, diariamente, vide os índices de assassinatos de índios e negros hoje nesse país. O Dia da Consciência Negra lembra a falta de nossa consciência humana, por isso deve existir e toda tentativa de deslegimitizar a data revela que a falta de consciência humana persiste. Afinal, porque os negros desse país não podem ser homenageados? Temos 365 dias no ano, não podemos ter um dia somente para nós? Nós que, por 365 dias do ano, durante quase 400 anos demos nossas vidas para construir esse país? Seria o mesmo que dizer: " Por que um feriado de Luther King?" Enegrece Brasil!


Claudina Damasceno Ozório. Idealizadora do Papo Preta-Saúde e Bem Estar da Mulher Negra. Psicóloga Clínica, Palestrante, Pesquisadora e Escritora. Mestre em Psicologia Clínica na PUC-Rio, Especialista em Questões de Gênero pela FIOCRUZ, Pós Graduanda em Teoria Psicanalítica pela PUC-Rio, Diretora Admnistrativa da ABRAF- Associação Brasileira deFamílias Homoafetivas.


Shenia Karlsson. Idealizadora do Papo Preta-Saúde e Bem Estar da Mulher Negra. Psicóloga Clínica, Palestrante, Pesquisadora e Escritora. Especialista em Casal e Família pela Puc-Rio, Mestranda em Estudos Africana pela Universidade de Lisboa, Diretora do Departamento de Sororidade e Entreajuda no INMUNE-Instituto de Mulher Negra em Portugal.

 
 
 

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