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O Pacto Narcísico da Branquitude e os desfechos políticos no Brasil

  • Foto do escritor: Shenia Karlsson
    Shenia Karlsson
  • 9 de abr. de 2018
  • 4 min de leitura

O presente texto é sobre um tema que temos conversado muito em nossas andanças Brasil e Europa, é sobre o pacto narcísico da branquitude, especialmente sobre os comportamentos utilizados para a sua manutenção, alinhados aos últimos desfechos políticos no Brasil. De maneira bem simplória, pretendemos aqui discorrer sobre alguns comportamentos dos detentores do poder, que parecem óbvios, mas como sempre dizemos, entre o pensamento e o comportamento há um caminho “recheado” de emoções e crenças, que são transmitidas ao longo das gerações e é sobre esse “recheio” que pretendemos falar.

Os últimos acontecimentos tem revelado a farsa do suposto lugar incontestável do branco, afinal nossas maiores mazelas são expressas através da gestão, da política, do judiciário, das lideranças e lugares de poder ocupados por muitas figuras que se auto intitulam “capazes”, mas que na prática mostram-se insuficientes ao representar e proteger um país com a diversidade do Brasil. No entanto, existem fundamentos históricos e lógicas opressoras que explicam a manutenção dessa rede. Um país alimentado por lógicas colonialistas não conseguiu ainda livrar-se de seus colonizadores

que perpetuam seus lugares por várias gerações. De acordo com o mestre Abdias do Nascimento, o Brasil foi fundado pela exploração, pelo “parasitismo imperialista”, cujo todos os frutos do trabalho árduo era desfrutado somente por essa “aristocracia branca”. E hoje? Ainda não é? Vide os “penduricalhos” do judiciário e todos os saques políticos praticados ultimamente.


Voltando aos acordos... Bem sabemos que um pacto é um ajuste ou combinação ou contrato formal ou informal entre duas ou mais pessoas, que estabelecem direitos e deveres para as partes envolvidas. Assim, quando firmamos um pacto com alguém, assumimos responsabilidades mútuas, seja para a proteção ou manutenção de algo, alguém ou alguma coisa. No senso comum, narcisista é aquele que tende a estar voltado para si mesmo e para as suas próprias características. Como diz Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”. Já a branquitude é descrita por Maria Aparecida Bento “como um lugar de privilégio racial, econômico e político, no qual a racialidade, não nomeada como tal, carregada de valores, de experiências, de identificações afetivas, acaba por definir a sociedade”.


Desse modo, o pacto narcísico da branquitude tem em seu bojo aspectos conscientes e inconscientes de manutenção do status quo, que podem ser observados nos comportamentos, posturas e decisões, especialmente de políticos. Comportamentos esses que preservam as hierarquias raciais, como pacto entre iguais em ambientes de poder, os quais são reprodutores e conservadores, mantenedores de privilégios. Como diz Abdias Nascimento , “a hipocrisia do sistema branco, uma má consciência do universo branco, especialmente no Brasil, uma forma singular e abominável de redenção de seus próprios crimes”. Esse pacto entre “iguais” tem sua fonte no ideal europeu de ser (indivíduo branco) e diferencia-se dos demais em todos os sentidos, como salienta Achille Mbembe em sua obra A crítica da razão negra - “o pensamento Europeu sempre teve a tendência para abordar a identidade, não em termos de pertença mútua (co-pertença) a um mesmo mundo, mas antes na relação do mesmo do mesmo, de surgimento do ser e da sua manifestação no seu ser primeiro, ou ainda no seu próprio espelho”.


Os silêncios e silenciamentos de qualquer ideia ameaçadora, que denuncia o sistema, funcionam como estratégia de manutenção do status quo e quando alguém que não é parte do pacto narcísico entra no sistema atrapalha o esquema. Porém, esse indivíduo que atrapalha tem características próprias, não só divergências políticas e econômicas, mas também habilidades pessoais e sociais que o fortalece, fazendo com que ele avance. E tem mais...esse sujeito possui o aval de uma parcela significativa da sociedade...Esse indivíduo precisa ser barrado. Ele não faz parte do pacto narcísico e não se parece com as pessoas que fazem. Então, os sujeitos privilegiados pelo pacto narcísico podem se perguntar: ‘Podemos até tolerá-lo, mas já está demais!’. Se ele avançar, como será? O que faremos? E nossos privilégios? Como os manteremos? Essas perguntas podem não ser feitas de forma clara, podem está subentendidas em atitudes que talvez denunciem o “medo branco” atualizado, de perderem os poderes políticos. O que pode está implícito o conhecimento das próprias limitações, fragilidades e incompetências, buscando formas, por vezes perversas, de proteção. Quiçá, para os integrantes do pacto narcísico, um ser humano sem poder é apenas um ser.


As decisões políticas tomadas nos últimos tempos tem direcionamento adequado e parece ser a política da exceção, que funciona muito bem, mas para um tipo de corpo. Pensando de uma forma sistêmica, a cadeira do bode expiatório precisa ser preenchida por alguém, mas este precisa ter perfil para o lugar. Parece haver também, aí consiste a ambiguidade, o reconhecimento do poder de mudança do jogo, que o bode expiatório possui, o que nos faz pensar em um misto de medo com falta de caráter. É preciso tirar do caminho quem atrapalha o esquema. É um jogo perverso em que muitos de nós servimos para a manutenção do pacto narcísico, de várias formas, mesmo quando não participamos ativamente.


Sujeitos de ego frágil governam o país e qualquer um que se aproxima, ameaçando a manutenção do status quo será retirado do caminho, ainda que de forma ilegal e inconstitucional.


Por:


Claudina Damasceno OzórioPsicóloga Clínica.É idealizadora e uma das coordenadoras do PapoPreta: Saúde e bem estar da mulher negra. Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Especialista em gênero, sexualidade e direitos humanos pela FIOCRUZ. Cursou Psicologia e Relações Raciais no Instituto AMMA Psique e Negritude de São Paulo. Membro do grupo de pesquisa “Corporalidade” (sendo uma das temáticas o estudo da representatividade social e cabelo étnico) no Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio. Diretora Administrativa da ABRAFH (Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas). , cdozorio@gmail.com / claudina.ozorio@fiocruz.br


Shenia Karlsson Psicologia Clínica, Mestranda em Estudos Africanos na Universidade de Lisboa, Psicóloga Especialista Pós Graduada pela Puc-Rio, Terapeuta Sistêmica de Família, Terapeuta de casal, Terapia de casais homoafetivos, Psicóloga Social e de grupos. É Idealizadora e uma das coordenadora do Papo Preta: Saúde e bem estar da mulher negra. Foi membro participante do Laboratório de Experiências Feministas Negras na Ong Casa das Pretas. Foi Psicóloga e Pesquisadora na Prefeitura do Rio de Janeiro - Colônia Juliano Moreira no programa de Moradias Terapêuticas. criskarlsson@gmail.com


Bibliografias


MBEMBE, ACHILLE. A crítica da razão negra. 2014, Lisboa: Antígona

NASCIMENTO, ABDIAS. O genocídio do negro brasileiro. Processo de um racismo mascarado. 1978, Rio de Janeiro:Paz.

BENTO, MARIA APARECIDA SANTOS. Pactos narcísicos no racismo: Branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público.(Tese de doutorado), São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento Humano. 2002 - disponível em http://bdpi.usp.br/single.php?_id=001310352

 
 
 

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